quarta-feira, 25 de abril de 2012

Paraíso perdido...


Há um tempo atrás li em algum canto da internet, a respeito de um documentário produzido pela HBO, respeitada rede de televisão americana, sobre o preconceito contra Headbangers, Metalheads, Metaleiros ou seja lá como quiserem chamar, que estava concorrendo ao Oscar de melhor documentário de 2012.

A princípio achei que era mais um desses documentários sobre as "tribos urbanas", muito comuns desde a década de 90. Sem muito esforço procurei pelo documentário, não encontrando para vender (com legendas em português, que fique claro), não me preocupei, pois já vi inúmeras reportagens e documentários sobre o tema, poderia citar aqui os nomes, mas não é o foco desta publicação.

Durante as minhas buscas encontrei uma referência ao documentário da HBO, mas com um conteúdo que me deixou de cabelos em pé, era sobre a prisão, julgamento e condenação (isso mesmo encarceramento) de três jovens acusados de terem assassinado três garotos de 8 anos. E havia a menção do estilo Heavy Metal no meio da referência. O desastre associado ao estilo musical que amo, com certeza chamou minha atenção.

Comecei uma busca mais séria para comprar (legendado) o documentário da HBO. Não encontrei. Então apelei para os caminhos digitais da internet para baixar o documentário, busca árdua também. Parece que ninguém quer disponibilizar documentários, nem os próprios produtores para venda (uma vez que descobri que o documentário será lançado em outubro de 2012 aqui no Brasil), nem a “comunidade do tudo livre” da internet (parece que “conteúdo inteligente” não gera acessos).

Quando já estava quase desistindo, estava pensando em comprar o documentário sem legendas mesmo, achei uma referência a um site que talvez disponibilizasse o documentário legendado. Não, ainda não tinha sido desta vez, mas achei o documentário sem as legendas e por via das dúvidas baixei para assistir.

O documentário a que me refiro aqui se chama “Paradise Lost 3 - Purgatory” (imagine a confusão durante as buscas com a banda homônima!), o detalhe é que este é o terceiro da série, ou seja, existiam mais dois documentários que eu não sabia do que tratavam, mas sempre havia menção ao meu querido e amado Heavy Metal, eu tinha que ver os outros dois também. Esta terceira parte concorreu ao Oscar de melhor documentário de 2012 (para quem se interessa por isso pode encontrar aqui a lista completa dos ganhadores, o documentário não ganhou o Oscar, porque será?).

Como já havia baixado o terceiro, fui à caça das legendas, sem resultados. Não podia deixar de assistir o documentário apenas por não encontrar as legendas e já estava gastando um tempo precioso em busca dos dois primeiros documentários e das legendas para os 3 filmes.

Decidi assistir ao documentário sem as legendas mesmo. Em um dia que estava só em casa, coloquei o “avi” para rodar no meu computador e me preparei para decifrar o que havia em comum entre assassinatos e Heavy Metal.

Comecei a assistir o documentário pela terceira parte, que é justamente a parte final da série, então percebendo que não poderia fazer uma resenha decente se não prestasse atenção na cronologia dos documentários, desliguei o reprodutor e decidi que veria os três filmes na sequência correta.

Foi o que fiz baixei as três partes do documentário e em um dia sossegado em casa assisti a sequência completa de documentários da HBO.

Comecei por “Paradise Lost - The Child Murders at Robin Hood Hills”, de 1996, com 150 minutos de duração. Em seguida assisti “Paradise Lost 2 - Revelations”, de 2000, com 130 minutos de duração, que você pode assistir na integra (sem legendas e com som original) as partes 1 e 2, aqui. Para finalizar voltei para assistir a parte final, “Paradise Lost 3 - Purgatory”, de 2012, com 120 minutos de duração.

Vamos ao conteúdo dos documentários, os 3 filmes tratam da prisão, “julgamento” e da condenação de três jovens acusados de assassinarem três garotos de 8 anos em um ritual satânico (percebeu onde entra o Heavy Metal na história?).

O assassinato ocorreu em 1993, em uma daquelas cidades “caipiras” e ultraconservadoras dos EUA, a base da condenação é toda circunstancial, sem evidências sólidas, e em cima do preconceito idiota de que todo cara que se veste de preto e ouve Heavy Metal só pode praticar rituais satânicos matando os filhos alheios.

Em um “julgamento justo”, em 1996, dois deles são condenados a prisão perpétua e outro à morte (lembre-se que nos EUA, os caras realmente ficam a vida toda na cadeia e realmente são executados), mas uma equipe de diretores da HBO (não por coincidência, a mesma dupla de diretores que fez o idiomático “Some Kind of Monster” do Metallica, Joe Berlinger e Bruce Sinofsky) resolveu realizar um documentário que mostrasse o julgamento, tamanha repercussão que o caso teve nos EUA, também não foi por coincidência que a trilha sonora é de ninguém menos que do Metallica.

Mais tarde, em 2000, a mesma equipe da HBO, percebendo que alguma coisa estava “meio” errada decide documentar algumas das apelações dos acusados e decide ir ao fundo das investigações do caso. Algumas revelações são dadas sobre o caso, daí o nome do segundo episódio.

A parte conclusiva desta história toda é estruturada de uma forma que o telespectador não precise assistir aos outros dois filmes (eu sei sou chato mesmo), ela faz um apanhado geral do que ocorreu durante os quase 20 anos do caso.

Pesquisando na internet eu também li muita coisa de pessoas dizendo que o documentário nem deveria ter sido indicado ao Oscar, pois é sobre um caso muito particular e não muda nada na vida das pessoas, mas foi justamente esse tipo de pensamento que colocou os três na cadeia por quase 20 anos, “eu não quero saber do que acontece com o outro, pois o MEU umbigo está alimentado, quentinho e seco”.

Para essas pessoas que acham que esse documentário não muda em nada a vida deles, vale lembrar que os Estados Unidos da América é um "país livre", assim como "também é" o nosso amado Brasil.

Casos como este podem e devem ocorrer todos os dias por esse mundo afora, provavelmente não por causa do preconceito com o Heavy Metal, mas por puro preconceito de algo contra alguém. Imagine-se na prisão por quase 20 anos simplesmente por que você é pobre! Cheguei perto da sua realidade agora? Em uma das propagandas sobre a "Hot Line" do fundo para libertação dos 3 acusados, o cartaz dizia “Information is freedom” (Informação é liberdade), o cartaz pedia dica para encontrar provas para livrar os acusados, mas para você a informação sempre te libertará dos seus preconceitos.

Se você chegou até este ponto da leitura terei que pedir que, caso tenha a intenção de ver o documentário e não quer saber o final desta história macabra antecipadamente, pare de ler, assista o documentário e depois volte neste ponto e termine a leitura.

Parou de ler? Caso continuou a ler, significa que não se importa em conhecer o final da história antecipadamente, mesmo que tenha a intenção de assistir ao documentário. Eu não gosto de fazer resenhas de filmes e livros, pois quase nunca posso contar o final da história, mas neste caso devo fazer uma exceção, uma vez que o final é o que vai redimir 20 anos de sofrimento para esses três injustiçados.

Ao final do documentário que teve sua estréia adiada em 4 meses para a inclusão das imagens da libertação dos, já não tão jovens, acusados após uma confissão de que eram culpados dos crimes. Opa! Espera aí. Não provaram durante o documentário que eles eram inocentes? Sim. Porque a confissão então? Era a única forma de fazer com que saíssem da prisão sem gerar mais um processo que eles poderiam perder novamente. Puta que pariu! Inocentes poderiam perder um segundo processo para provar a própria inocência!

Viu só como informação te liberta dos seus preconceitos, neste caso, os culpados na verdade sempre foram inocentes. Os jovens de preto e que escutavam Heavy Metal não eram satanistas afinal, mas quem iria culpá-los se após todos esses fatos passassem a adorar satã,
já que foram os “servos de deus” quem os fizeram viver um verdadeiro inferno, não é mesmo?

Libertem-se!!!
Mauro B. Fonseca

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